sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Deeper and deeper

Hoje vi o que me magoa o que fere, fundo mesmo
percebi um algo que havia me escapado até ontem
na verdade, já havia olhado, mas não havia visto.
como algumas coisas são para poucas pessoas
tudo tem um preço nada vem de graça, nada mesmo.
Bah, não é nada disso que eu quero falar
quero voltar aos meus 4, 5 anos a gente morava no depósito de algum mercado.
Aquilo era gigantesco, a gente brincava sobre os sacos de arroz e farinha
Foi ali que pisei no prego, e fui parar no plantão, antitetânica e colo de mãe.
Mas houve uma vez em que fiquei sozinha, desgarrada dos irmãos e da família
um "tio" veio de bicicleta prestar algum serviço no depósito.
Eu tava brincando com a Late-Lulu
Quantos anos fugindo dessa lembrança triste.
Mas hoje eu queria libertar todos os fantasmas, e o "tio" da bicicleta é o primeiro da lista
me chamou para dentro do depósito de bebidas. Disse que se eu fosse boazinha, ganharia um refri só para mim. Foi uma proposta tentadora, irrecusável. Ter um refri só para mim. Ah, e boazinha, era o meu forte! Todo mundo gostava de mim.
Ele abriu a garrafa, e colocou dois canudinhos. Não dá pra fingir bloqueio emocional, essas paradas, pois eu lembro de tudo.
O refri estava na mão dele. Até onde me lembro, era um sujeito magro, com a pele curtida de sol, um senhor nos seus 40, 45 anos, chapéu na cabeça. Segurou a garrafa na mão, uma preciosidade para mim, que tomava refri só no natal e nos aniversários da família. Agora teria uma garrafinha só para mim. Era só ficar quietinha e ser boazinha com o tio. Que mal havia nisso???
Não olho filmes de horror. Tenho meus próprios fantasmas, meus próprios horrores. Tinha medo do escuro (hoje fico tranquila ali), mas tenho mais medo do que pode me tocar e ferir. De frieza e palavras que machucam. O passado é um velho fantasma que muitas vezes vem me visitar. É como uma ferida antiga. Ela sara, mas a cicatriz sempre está ali, e você não precisa nem olhar pra ela pra saber como ela chegou a fazer parte da sua vida, entrar na sua pele.
É como um feitiço que, para ir embora, precisa ter o seu nome pronunciado, mas só o nome, só de PENSAR  no nome, a coragem se desfaz, a memória fica borrada, o melhor é sentar num cantinho e esperar passar a dor. Alguém vai dizer: isso não foi nada, ou: isso foi há tanto tempo. Eu vou responder: isso foi definitivo.
O pôr do sol estava lindo hoje, pura poesia... aliás, por que as crianças não empinam mais pipas?...


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